
Um estudo de larga escala realizado na Suécia revelou uma descoberta significativa: hospitalizações devido à COVID-19 grave podem dobrar o risco de desenvolver esclerose múltipla (EM). Publicado na Brain Communications, o estudo analisou dados de quase 10 milhões de pessoas, reforçando a importância de compreender as implicações de infecções graves no desenvolvimento de condições autoimunes.
Esclerose múltipla e infecções: qual é a conexão?
A esclerose múltipla é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca a bainha de mielina, uma camada protetora ao redor das fibras nervosas, causando sintomas neurológicos variados. Estudos anteriores já haviam demonstrado a ligação entre infecções virais, como o vírus Epstein-Barr (EBV), e a EM, indicando que respostas imunes desencadeadas por infecções podem afetar negativamente o sistema nervoso.
No caso da COVID-19, o estudo identificou que pessoas hospitalizadas por complicações graves apresentaram um risco significativamente maior de diagnóstico de EM em comparação com aquelas que tiveram casos leves ou moderados da doença.
Resultados do estudo: COVID-19 grave e o risco de EM
A análise incluiu dados de 2020 a 2022, abrangendo casos graves e leves de COVID-19. Durante o período de acompanhamento, 787 pessoas foram diagnosticadas com esclerose múltipla. Os principais achados foram:
Risco aumentado em casos graves: Pacientes hospitalizados por COVID-19 grave tiveram 2,5 vezes mais chances de desenvolver EM em comparação com a população geral.
Sem risco aumentado em infecções leves: Nenhum aumento significativo no risco de EM foi observado entre aqueles que testaram positivo para COVID-19, mas não necessitaram de hospitalização.
Período crítico de diagnóstico: A maioria dos diagnósticos de EM ocorreu nos primeiros seis meses após a hospitalização, com uma mediana de 82 dias entre a internação e o diagnóstico.
Esses achados sugerem que a gravidade da infecção desempenha um papel importante no risco de desenvolver EM, possivelmente ao desencadear respostas imunes que afetam o sistema nervoso central.
Por que a COVID-19 grave pode aumentar o risco de EM?
A hipótese principal é que uma resposta imune exacerbada à infecção grave pelo SARS-CoV-2 pode causar inflamação no cérebro e na medula espinhal, promovendo danos à mielina. Além disso, o vírus pode desencadear um ataque autoimune devido a semelhanças estruturais entre proteínas virais e do sistema nervoso.
Outro fator a ser considerado é que a COVID-19 grave pode acelerar a progressão de condições pré-existentes que ainda estavam em fase assintomática, como a esclerose múltipla latente.
O que isso significa para a população geral?
Embora o risco de desenvolver esclerose múltipla seja maior em pacientes hospitalizados, é importante destacar que a EM continua sendo uma doença rara. O número absoluto de casos relacionados à COVID-19 grave é extremamente pequeno. Segundo os pesquisadores, "a maioria das pessoas infectadas não desenvolverá EM, e a preocupação deve ser limitada a indivíduos com sintomas suspeitos".
A importância do monitoramento e tratamento precoce
Para aqueles diagnosticados com esclerose múltipla, o tratamento precoce é fundamental para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida. Portanto, pessoas que enfrentaram casos graves de COVID-19 devem estar atentas a sinais de problemas neurológicos, como:
Fadiga persistente;
Fraqueza muscular;
Problemas de visão;
Dormência ou formigamento em membros.
Caso qualquer um desses sintomas surja, buscar avaliação médica é essencial para um diagnóstico precoce.
Conclusão
O estudo sueco é um marco na compreensão dos impactos a longo prazo da COVID-19 grave. Embora os resultados indiquem um risco aumentado de esclerose múltipla em pacientes hospitalizados, a condição permanece rara.
A pesquisa destaca a importância de monitorar pacientes recuperados de COVID-19 grave para identificar precocemente condições relacionadas. Além disso, reforça a necessidade de esforços contínuos para prevenir infecções graves, seja por meio de vacinação ou cuidados médicos adequados.
Se você passou por uma hospitalização por COVID-19 e apresenta sintomas neurológicos, não hesite em procurar ajuda médica. O diagnóstico e tratamento precoce fazem toda a diferença no manejo da esclerose múltipla e outras condições autoimunes.
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