Sinais de esclerose múltipla podem surgir até 15 anos antes do diagnóstico, revela estudo
- Priscila Emery
- 7 de out.
- 3 min de leitura

Uma nova pesquisa publicada no JAMA Network Open trouxe uma descoberta impressionante: os sinais iniciais da esclerose múltipla (EM) podem aparecer até 15 anos antes do diagnóstico oficial. O estudo, conduzido pela Universidade de British Columbia, no Canadá, indica que sintomas aparentemente comuns — como fadiga, dor, tontura, ansiedade e depressão — podem ser os primeiros indícios da doença muito antes de surgirem os sintomas neurológicos clássicos.
Sinais precoces e a fase “silenciosa” da esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, causando danos à mielina, a camada protetora dos neurônios. Tradicionalmente, acredita-se que ela se manifeste com sintomas neurológicos como perda de visão, formigamentos, fraqueza muscular e desequilíbrio. Mas este novo estudo mostra que a doença pode começar de forma muito mais sutil e precoce.
Segundo os pesquisadores, pessoas que mais tarde desenvolveram EM já apresentavam aumento no número de consultas médicas cerca de 15 anos antes do diagnóstico. Essas visitas estavam relacionadas a sintomas gerais, muitas vezes confundidos com estresse, cansaço ou distúrbios emocionais.
Entre os principais sinais precoces observados estavam:
Fadiga persistente
Dores difusas ou musculares
Tonturas recorrentes
Ansiedade e depressão
Problemas oculares, como visão turva ou dor nos olhos
Esses sintomas formam o que os especialistas chamam de fase prodrômica da EM — um estágio inicial, silencioso e ainda não reconhecido clinicamente.
Como o estudo foi conduzido
Os pesquisadores analisaram registros de saúde de mais de 12 mil pessoas na Colúmbia Britânica, acompanhando dados de até 25 anos antes do primeiro evento desmielinizante — o momento em que os sintomas neurológicos da EM se tornam evidentes.Foi o primeiro estudo a observar um período tão longo antes do diagnóstico.
Eles notaram um padrão de aumento progressivo nas consultas médicas:
15 anos antes: aumento de visitas a clínicos gerais por sintomas gerais e queixas de saúde mental;
12 anos antes: crescimento de consultas com psiquiatras;
8 a 9 anos antes: mais visitas a neurologistas e oftalmologistas;
3 a 5 anos antes: aumento de atendimentos em emergências e radiologia;
1 ano antes: pico de consultas em várias especialidades médicas.
Esses dados reforçam que a EM se desenvolve de maneira gradual, e que os sinais precoces podem ser detectados muito antes da manifestação clássica da doença.
O que essa descoberta significa para o futuro do diagnóstico da EM
Os resultados desafiam a visão tradicional de que a esclerose múltipla começa apenas quando surgem os sintomas neurológicos claros.Segundo a professora Helen Tremlett, autora sênior do estudo, compreender essa fase inicial “abre a porta para novas estratégias de detecção, monitoramento e intervenção precoce”.
Assim como ocorre em outras doenças neurológicas — como o Mal de Parkinson, que também apresenta uma fase prodrômica com sintomas sutis — a EM pode ter alterações biológicas e comportamentais muito antes de ser diagnosticada.
Reconhecer esse período pode permitir:
Diagnóstico antecipado, antes que os danos neurológicos sejam significativos;
Intervenções preventivas e acompanhamento mais próximo de pessoas em risco;
Desenvolvimento de biomarcadores capazes de detectar a doença em estágios iniciais.
Conclusão: um novo olhar sobre a esclerose múltipla
O estudo canadense representa um marco no entendimento da esclerose múltipla. Ele mostra que a doença não começa de forma súbita, mas sim após anos de mudanças sutis no corpo e no comportamento.
Embora nem todos que apresentem sintomas gerais desenvolvam EM, a identificação dessa fase pré-clínica pode transformar a forma como a medicina enxerga e trata a doença.
Como destaca o Dr. Tremlett, “ao identificar essas bandeiras vermelhas, poderemos intervir mais cedo, oferecendo monitoramento, suporte e estratégias preventivas que melhorem a qualidade de vida das pessoas com EM”.




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