Infecção urinária pode aumentar o risco de infarto e AVC, revela estudo
- Priscila Emery
- 7 de out.
- 3 min de leitura

As infecções do trato urinário (ITUs) são extremamente comuns, especialmente entre as mulheres. No entanto, um novo estudo publicado no BMJ Open revelou uma associação surpreendente: o risco de infarto do miocárdio (IM) e acidente vascular cerebral (AVC) mais do que dobra nos sete dias após uma ITU.A descoberta reforça a importância de tratar as infecções de forma rápida e de investigar seus possíveis impactos na saúde cardiovascular.
Ligação entre infecção e eventos cardiovasculares
Pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, analisaram dados de mais de 100 mil pacientes que tiveram infarto ou AVC entre 2010 e 2020. O objetivo era entender se uma infecção urinária prévia poderia estar relacionada ao surgimento desses eventos cardiovasculares graves.
Os resultados mostraram que o risco de infarto aumentou 2,49 vezes e o de AVC aumentou 2,34 vezes nos sete dias seguintes à ITU. Mesmo após o período inicial, o risco permaneceu elevado por até 90 dias, ainda que de forma menos intensa.
Esses achados sugerem que o processo inflamatório desencadeado pela infecção pode desestabilizar o sistema cardiovascular, aumentando a probabilidade de formação de coágulos e obstrução dos vasos sanguíneos.
Como a infecção pode afetar o coração e o cérebro
Durante uma infecção, o corpo ativa uma resposta inflamatória para combater os microrganismos invasores. Essa reação, embora essencial, pode causar alterações na coagulação do sangue, aumento da pressão arterial e inflamação das artérias.Esses fatores, combinados, criam um ambiente propício para o desencadeamento de um infarto ou de um derrame.
O estudo observou que, entre os pacientes analisados, os eventos cardiovasculares eram mais frequentes logo após infecções urinárias confirmadas ou suspeitas, mesmo quando não havia crescimento bacteriano em cultura. Isso indica que a simples resposta inflamatória já pode ser suficiente para elevar o risco.
Diferenças entre homens e mulheres
A pesquisa também mostrou diferenças importantes entre os sexos. As mulheres representaram a maioria dos casos de ITU e apresentaram média de idade mais elevada — 76 anos para infarto e 79 para AVC. Já entre os homens, a média foi de 74 e 78 anos, respectivamente.Apesar dessas variações, o aumento do risco cardiovascular após uma infecção foi consistente em ambos os grupos.
Outro achado relevante foi a presença da bactéria Escherichia coli (E. coli), responsável pela maioria das infecções urinárias. Curiosamente, o risco de infarto foi menor quando a infecção envolvia E. coli, mas o risco de AVC foi maior, em comparação com infecções causadas por outros agentes.
O que esses dados significam para a saúde pública
Esses resultados reforçam a necessidade de atenção médica imediata em casos de infecção urinária, especialmente entre pessoas com fatores de risco cardiovascular, como hipertensão, diabetes ou histórico de doenças cardíacas.A identificação precoce e o tratamento adequado da ITU podem reduzir não apenas as complicações renais, mas também os riscos sistêmicos que ela pode gerar.
Além disso, a pesquisa destaca a importância de um acompanhamento mais cuidadoso após uma infecção, já que o risco cardiovascular permanece elevado nas semanas seguintes. Isso pode influenciar futuras estratégias de prevenção e protocolos de cuidado integrados entre infectologistas, clínicos e cardiologistas.
Conclusão
As infecções do trato urinário não devem ser encaradas apenas como um problema local ou passageiro. O estudo britânico mostra que elas podem desencadear complicações graves, como infarto e AVC, especialmente nos dias que seguem a infecção. Mais do que nunca, é essencial não ignorar os sintomas de uma ITU — dor ao urinar, urgência urinária e febre — e buscar avaliação médica imediata.Cuidar da infecção a tempo pode significar proteger o coração e o cérebro de eventos potencialmente fatais.




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