Alimentos ultraprocessados e Esclerose Múltipla: nova evidência destaca impacto negativo no início da doença
- Priscila Emery
- 12 de nov.
- 2 min de leitura

Uma nova pesquisa apresentada no congresso ECTRIMS 2025 mostra que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados (UPFs — Ultra-Processed Foods) está associado a maior atividade da doença em pacientes com formas iniciais de esclerose múltipla.
O estudo sugere que esses alimentos podem agravar a inflamação e o dano nervoso, mesmo antes da progressão clinicamente definida da EM.
O que o estudo investigou
O trabalho analisou dados de 451 pacientes com síndrome clinicamente isolada (SCI) — um primeiro episódio neurológico sugestivo de EM — que foram acompanhados por até 5 anos.
Foi utilizado um marcador plasmático metabolômico validado (com 39 metabólitos) para estimar a exposição individual a UPFs. Pacientes no quartil mais alto de consumo apresentaram cerca de 30% mais recaídas no período de seguimento.
Além disso, o grupo com maior exposição a UPFs acumulou mais lesões no exame de ressonância magnética (volume T2 maior) e mais lesões ativas. Mesmo após ajuste para idade, sexo, tratamento, IMC, vitamina D e tabagismo, a associação permaneceu significativa.
Por que esses alimentos podem afetar a EM
Os autores discutem possíveis mecanismos biológicos:
Aditivos presentes em UPFs, como emulsificantes e conservantes, podem comprometer a barreira intestinal, permitindo que endotoxinas entrem na circulação e estimulem o sistema imune.
Alterações no metabolismo lipídico e níveis elevados de ceramidas podem tornar a mielina — a camada protetora dos neurônios — mais vulnerável à agressão autoimune.
Estresse metabólico, evidenciado por sinais como aumento de C4-OH carnitina, sugere que o cérebro pode ter menor resistência ao dano quando submetido a inflamação persistente.
Os autores resumem essa lógica afirmando que os UPFs “não parecem determinar se alguém desenvolverá EM, mas sim amplificar os processos inflamatórios já em curso”.
Implicações para quem convive com EM
Embora o tratamento medicamentoso continue sendo central no controle da EM, essa nova evidência reforça que há espaço para intervenções dietéticas complementares. Se você foi diagnosticado com EM ou está em fase inicial, considerar a redução do consumo de alimentos ultraprocessados pode ser uma estratégia de apoio para:
Reduzir a frequência de recaídas;
Diminuir o acúmulo de lesões cerebrais visíveis na ressonância;
Melhorar o equilíbrio inflamatório no organismo.
Como o estudo ressalta, não se trata de substituir tratamentos, mas de “complementar” — tal como se faz com vitamina D, cessação do tabagismo ou alimentação saudável.
Como adaptar sua dieta hoje
Aqui vão alguns passos práticos, alinhados com essa nova evidência:
Minimize alimentos ultraprocessados: fast-food, salgadinhos industrializados, doces com muitos aditivos, refrigerantes.
Prefira alimentos integrais: frutas, legumes, vegetais folhosos, peixes ricos em ômega-3, grãos integrais.
Leia rótulos com atenção: evite produtos com lista de ingredientes longa e muitos conservantes ou emulsificantes.
Associe à reabilitação neurológica: a dieta pode trabalhar em conjunto com seu tratamento neurológico, reforçando a saúde do sistema nervoso.
Conclusão
O estudo da ECTRIMS 2025 acrescenta um novo alerta para quem convive com esclerose múltipla: dieta importa, especialmente no início da doença.
Reduzir alimentos ultraprocessados pode se tornar uma estratégia de apoio para reduzir atividade inflamatória, menos lesões cerebrais e melhor controle da EM.
Converse com seu neurologista e nutricionista para inserir essas práticas na sua rotina de forma segura e personalizada — porque cada escolha alimentar pode ajudar a proteger o seu cérebro.




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