Uso de contraceptivos hormonais em mulheres com enxaqueca: quais os riscos vasculares?
- Priscila Emery
- há 3 horas
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A enxaqueca — especialmente com aura — já é reconhecida como um fator de risco para acidente vascular cerebral isquêmico. Estudos anteriores mostram que mulheres com enxaqueca com aura têm risco de AVC até duas a quatro vezes maior em comparação com mulheres que não têm enxaqueca.
Diante desse contexto, a utilização de contraceptivos hormonais combinados (CHCs — que contêm estrogênio e progestina) em mulheres com enxaqueca despertou preocupações sobre o aumento adicional do risco vascular.
Uma análise recente publicada no site da Neurology Advisor sugere que, entre mulheres jovens com enxaqueca, a exposição aos CHCs contendo estrogênio não foi associada a um risco vascular aumentado significativo — quando comparadas com mulheres com enxaqueca que não usam esse tipo de contraceptivo.
O estudo utilizou um grande banco de dados de saúde eletrônica (EHR) que incluiu mulheres de 18 a 45 anos com diagnóstico de enxaqueca, pelo menos três visitas médicas em três anos, e pelo menos uma medicação para enxaqueca num período de seis meses.
Comparando 5.535 usuárias de CHCs com 21.520 não usuárias, foi observado que 2,06% das usuárias tiveram um evento vascular composto (AVC isquêmico, infarto agudo do miocárdio, trombose venosa profunda/embolia pulmonar ou trombólise) versus 2,54% nas não usuárias — diferença não estatisticamente significativa.
Além disso, entre as mulheres não usuárias de CHC, aquelas com enxaqueca com aura apresentaram maior incidência de AVC isquêmico e desfecho composto em comparação com aquelas com enxaqueca sem aura (razão de risco 2,45 para AVC isquêmico; 1,34 para desfecho composto).
Interpretação: o que realmente isso significa?
Boas notícias: O uso de CHCs modernos, contendo estrogênio, entre mulheres com enxaqueca parece não elevar substancialmente o risco vascular em comparação com aquelas que não utilizam — desde que sejam excluídos outros fatores de risco.
Importante ressalva: O maior risco permanece para mulheres com enxaqueca com aura que não usam CHC. Ou seja, a aura continua sendo um fator de atenção.
Cuidados ainda necessários: Mesmo com esses achados recentes, recomenda-se avaliação individualizada de riscos de AVC e comorbidades antes da prescrição de CHC — considerando que outras diretrizes anteriores alertavam contra CHC em enxaqueca com aura.
O que conversar com seu médico
Se você é mulher com enxaqueca e está considerando ou já utiliza contraceptivos hormonais, algumas perguntas importantes para seu neurologista ou ginecologista:
Qual o tipo de enxaqueca que você tem? Com aura ou sem aura?
Existem outros fatores de risco vascular (tabagismo, hipertensão, obesidade, histórico familiar)?
Que dose de estrogênio e progestina contém o contraceptivo proposto?
Existem alternativas como pílulas só de progestina, que podem ter perfil de risco diferente?
Qual o acompanhamento de saúde e vascular recomendado no seu caso?
Conclusão
A nova evidência aponta que os contraceptivos combinados contendo estrogênio podem não estar associados a risco vascular aumentado em mulheres com enxaqueca, o que representa um avanço importante.
Porém, o diagnóstico de enxaqueca com aura e a presença de outros fatores de risco continuam requerendo análise cautelosa.
O ideal é um planejamento individualizado, com diálogo entre neurologista e ginecologista, levando em conta o tipo de enxaqueca, perfil vascular da paciente e alternativas contraceptivas disponíveis.




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