Cuidado espiritual na neurologia: como ele transforma vidas de pacientes e cuidadores
- Priscila Emery
- 30 de jul.
- 3 min de leitura
A espiritualidade como aliada no enfrentamento de doenças neurológicas
Diante de um diagnóstico neurológico grave, como demência ou Parkinson, muitos pacientes enfrentam não apenas sintomas físicos, mas também um sofrimento existencial.
Nesse contexto, o cuidado espiritual tem se mostrado uma ferramenta poderosa para promover conforto, ressignificação da vida e fortalecimento emocional — tanto para os pacientes quanto para seus familiares.
O que é o cuidado espiritual?
Diferente da prática religiosa, o cuidado espiritual busca oferecer apoio emocional e existencial, focando no que dá sentido à vida de cada pessoa. Esse tipo de intervenção pode ser oferecido por capelães, psicólogos, médicos ou outros profissionais capacitados, e é aplicável a pessoas de qualquer fé — ou mesmo sem crença religiosa.
Terapias espirituais que fazem a diferença
Entre as abordagens mais eficazes estão a Terapia da Dignidade e a técnica Hear My Voice. Ambas visam resgatar o valor da história de vida do paciente e ajudá-lo a construir um legado que possa ser deixado para os entes queridos.
A Terapia da Dignidade, desenvolvida pelo Dr. Harvey Max Chochinov, envolve conversas entre o paciente e um terapeuta, com foco em reflexões sobre a vida, valores e desejos. O resultado é um documento legado, revisado pelo próprio paciente, que pode ser lido por familiares — inclusive em momentos de despedida, como funerais.
Já o projeto Hear My Voice conduz entrevistas com foco espiritual, registrando crenças, aprendizados e desejos do paciente. Esse tipo de cuidado traz conforto, clareza e um senso de continuidade, mesmo diante do fim da vida.
Resgatando o sentido no presente
Nem todos os pacientes estão preocupados com o legado. Alguns buscam sentido no agora. Para esses casos, a Psicoterapia Centrada no Significado é uma abordagem estruturada que ajuda o paciente a lidar com o sofrimento existencial. Desenvolvida a partir das ideias de Viktor Frankl, essa técnica identifica quatro fontes de significado: histórico, atitudinal, criativo e experiencial.
A Psicoterapia Centrada no Significado auxilia pacientes a reconectarem-se com momentos, pessoas ou atividades que ainda oferecem propósito, mesmo diante de doenças limitantes. Ao reconhecer a própria capacidade de escolher a atitude diante do sofrimento, muitos encontram força e esperança renovadas.
Espiritualidade que ultrapassa religiões
O cuidado espiritual não exige fé religiosa. Ele é baseado em elementos universais: conexão, significado, valores e transcendência. Doenças neurológicas como Alzheimer, Parkinson ou esclerose múltipla desafiam justamente esses pilares da existência.
Como destaca o Dr. Benzi Kluger, professor de neurologia da Universidade de Rochester, “a espiritualidade se resume a onde você encontra significado, como se conecta com o mundo e com os outros”. São aspectos que qualquer ser humano compartilha — e que o cuidado espiritual busca honrar.
Benefícios também para os cuidadores e profissionais
Além de impactar diretamente os pacientes, o cuidado espiritual fortalece os cuidadores e até os profissionais de saúde. Muitos capelães acompanham famílias no luto, participam de funerais e criam vínculos que permanecem mesmo após a morte do paciente.
Casos emocionantes, como o de familiares que eternizaram a palavra “esperança” com tatuagens inspiradas em conversas com capelães, revelam o profundo impacto emocional e simbólico dessas práticas.
Espiritualidade como parte do tratamento
Integrar o cuidado espiritual aos tratamentos neurológicos oferece um novo olhar sobre o sofrimento e o sentido da vida. Seja criando um legado, resgatando memórias ou apenas sendo ouvido, o paciente sente que sua história importa — e isso transforma tudo.
Se você ou alguém próximo está lidando com uma doença neurológica, considere incluir o cuidado espiritual no plano de tratamento. Porque cuidar da alma também é parte da cura.
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