A esclerose múltipla (EM) é uma condição complexa que afeta o sistema nervoso central e pode levar a uma série de incapacidades físicas e cognitivas. Recentemente, o papel do exercício físico no tratamento da EM ganhou destaque como uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade de vida e potencialmente paralisar a progressão da doença. A perspectiva foi apresentada na reunião anual do Comitê Europeu de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla (ECTRIMS).
A evolução da compreensão do exercício
Durante décadas, o exercício foi considerado prejudicial para pessoas com esclerose múltipla, mas estudos iniciais já na década de 1960 começaram a mostrar resultados promissores. Em 2008, uma edição especial do Multiple Sclerosis Journal afirmou que o exercício era seguro para pacientes com EM. Desde então, a pesquisa tem evoluído, levando alguns especialistas a considerar o exercício como uma forma de "medicação" para a esclerose múltipla.
Benefícios do exercício na fase inicial da EM
Um dos pontos mais intrigantes é que, mesmo na fase inicial da EM, déficits físicos mensuráveis podem ser identificados, antes que ocorra uma perda significativa do volume cerebral. Foram apresentados dados de um estudo que revelou deficiências na capacidade de caminhar, com variações de 10% a mais de 30% em diferentes medidas de desempenho. Esses achados sublinham a importância de intervenções precoces.
Pesquisas em modelos animais indicam que o exercício pode oferecer benefícios na fase inicial da EM. Animais que tiveram a oportunidade de se exercitar mostraram níveis mais baixos de incapacidade clínica ao longo da doença. Essa descoberta levou ao conceito de "prehabilitação", que busca prevenir sintomas ao invés de tratá-los após o seu aparecimento.
Exercício na fase média e avançada da EM
À medida que a EM avança, a perda de volume cerebral e a mobilidade tendem a piorar. O exercício pode neutralizar algumas dessas complicações. Estudos têm mostrado que modalidades como treinamento de resistência e aeróbico podem ter impactos positivos na força e na capacidade de oxigênio (VO₂ máximo). Um estudo específico mostrou que essas duas modalidades de exercício levaram a melhorias semelhantes em caminhadas e na redução da fadiga.
Além disso, um estudo recente observou que pacientes que praticavam exercícios aeróbicos mantiveram o volume da matéria cinzenta estável, enquanto aqueles em um grupo de espera apresentaram redução. Isso sugere um efeito protetor do exercício contra a progressão da doença.
Oportunidades de exercício em estágios avançados
Na fase mais grave da EM, é crucial garantir a segurança durante a prática de atividades físicas, o que pode exigir equipamento especializado. Um estudo piloto mostrou que o exercício para a parte superior do corpo melhorou o VO₂ máximo em cinco dos seis pacientes avaliados, mesmo em estágios avançados da doença. Esses resultados destacam que, mesmo em situações desafiadoras, melhorias significativas na saúde e no desempenho são possíveis.
Conclusão: nunca é tarde para começar
Uma revisão abrangente de estudos indicou que o exercício físico tem um impacto positivo na qualidade de vida de pacientes com esclerose múltipla. Os ganhos obtidos não foram influenciados pela gravidade da incapacidade, duração da doença ou tipo de exercício realizado.
Para pacientes com esclerose múltipla, incorporar atividades físicas regulares em suas rotinas pode não apenas ajudar a controlar os sintomas, mas também desempenhar um papel crucial na progressão da doença. Consultar profissionais de saúde para desenvolver um plano de exercícios personalizado pode ser o primeiro passo em direção a uma vida mais ativa e saudável.
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